“Sentou–se na mesa como tinha planejado há alguns minutos com o passarinho na mão e largou ele ali em cima do prato, bem no centro. Ainda não comentei, mas ele era um tanto sujo tinha uma imagem com algo de nojenta. Me passou pela cabeça que ela poderia abrir o bicho com a faca, talvez seja uma faca com serrinha, sem ficaria mais complicado, pelo menos eu acho, bom a faca teria que estar afiada, será que ela teve vontade de fazer isso? Será que teve curiosidade? por que se abrisse ele com cuidado podia olhar e retirar os órgãos inteiros, ver seus ossos inteiros, poderia tirar e botar ver o encaixe? não sei bem, mas tipo num ser humano, ela não poderia fazer isso, e vendo e sendo assim “fechados” e vivos, tipo com uma estrutura completamente complexa dentro de nós que meio que a gente vai vivendo com ela e se esquece, ver isso no passarinho era como se fosse possível entender melhor ela própria, acreditar que tudo aquilo era verdade, por eu não entender as coisas tem parte de mim que não acredita que elas sejam reais.”
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quinta-feira, 28 de abril de 2011
Pernas
“Agora ela me parece um tanto gorda. É séria, dona de um restaurante comum, sem muitas frescuras, mas um estabelecimento grande. Lá também é sua casa e alguns funcionários também dormem lá, num quarto de empregados aos fundos. Ela tem uma relação completamente superficial com as pessoas, não percebo ela tendo intimidade com ninguém, é séria, calada.
Mas a noite, praticamente todas as noites, ela que é solteira, dorme sozinha no quarto, recebe espíritos variados, canta dança grita, bebe, come, fuma, cozinha, costura, uma porção de coisas dependendo do espírito, às vezes não faz nada, às vezes chora sem parar”
Figura da mesa 6
“Mas vejo o corpo dele como se estivesse sendo filmado parte por parte, eu vejo todas suas formas, seus pequenos movimentos, até por que ele tem se movimentado pouco, ta receoso de se machucar. Mas se sente diferente, continua vivo apesar de não respirar mais, sente o corpo de outra forma, que ele não entende ainda.”
“Ele está olhando para uma ferida enorme na barriga de um sangue escuro, está olhando como quem analisa algo estranho, que ele não entende dentro dele mesmo.”
“por mais que como eu disse ele esteja confuso inclusive a própria identidade age como ele mesmo de maneira intuitiva”
Coração na gaiola
“Mas aí olho melhor e vejo que não é um passarinho, é um coração, esta sangrando e batendo, mas às vezes parece que ele respira como respiraria essa meu passarinho que na verdade é um ser humano, como se fosse possível um passarinho ter sentimentos humanos, mas ainda ser um passarinho, estar influenciado por esta condição.”
“ora olha para as próprias mãos e são mãos humanas, pequena até, com dedos finos unhas com uma base muito curta”
“Então nesta situação, parei a atenção na respiração dela olhei para baixo pelo ângulo que ela olharia para o próprio corpo e vi seu peito de passarinho verde”
“que medo que ele sente quando anda pela mão de uma ou outra. Esta que vejo segurando agora seria capaz de estraçalhar aquele coração com uma mão só, morderia ele depois, largaria no chão e pisaria em cima, pularia em cima! não iria sobrar nada e faria isso gritando, chegaria a se machucar pela agressividade com que faria isso.”
Minha relação de admiração pelo Chico Buarque, Tim Burton e Machado De Assis, mobiliza muito meu espírito para criar mas às vezes pela forma descontrolada como se manifesta me faz sentir mal, com uma pedra presa na garganta, me imobiliza também, por isso a imagem da gaiola. A idéia de obsessão como uma prisão me levou a esta ultima mesa. Acabei decidindo modelar um coração de cera.
Mulher sem cabeça
“Para começar, a cabeça já andava meio solta, ela vinha sentindo isso, mas não estava querendo se deter nesse assunto, se preocupar com isso, estava meio que ignorando. Mas andava solta como um dente mole, que primeiro se percebe que esta mole aí tu toca no dente confirma que está sim mole, tu consegue movê-lo um pouco, não é lá uma sensação muito agradável, mas quando se é criança isso é algo natural, os dentes vão cair um dia, o que seria diferente se depois de grande com arcada dentária já formada algum dente ficasse mole. Mas ela já devia ter percebido, em alguns cantos dava pra ver que começava a descolar, mas não queria se preocupar,foi deixando.
Então não sei exatamente por que isso, tenho que definir, ela saiu correndo, esbaforida nesse dia, não sei se corria atrás de alguém, se fugia de alguém, se estava com pressa, se lembrou de algo, realmente não sei mas saiu correndo, rápido mesmo, a ponto de tropeçar, pegar certo impulso e não sei exatamente como caiu em cima da mesa de barriga e o impulso fez com que a cabeça descolasse de vez. Que merda! Caiu! voou pra longe. Quando caiu no chão, bateu com força e saiu rolando, quando bateu no chão com a força machucou, foi uma batida bem forte, deu uma amassada, vejo sangue nos cabelos loiros (finos e meio crespos), acho que ela chegou a gritar de dor e de raiva junto – sabia que essa merda ia cair! nunca tinha acontecido isso antes- como já estava por um fio o pescoço já se mostra praticamente cicatrizado, um pouquinho machucado só, como um dente que estava por um fio e cai mesmo.”
Xícara com sangue
“Outra coisa que visualizei foi parte do tecido branco, em uma parte muito detalhada do vestido bordada a mão, onde a costureira fura o dedo com a agulha, e não é qualquer furinho, quase atravessa o dedo de fora a fora se é que não o faz, faz sim! mas retira logo a agulha (vi isso bem de perto), essa dói, causa uma espécie de susto até e vem uma boa quantidade de sangue e tinge o tecido branco, tinge parte dos detalhes bordados até e pinga um pouco na barra que estava mais abaixo, vejo tudo isso bem de perto. Ela larga tudo ali e vai cuidar do dedo acredito que a dor (aconteceu muito rápido), o susto de se ter machucado agora, deixa a preocupação para como irá cuidar do vestido para depois. Digo isso por que o bordado ficou inacabado, pode desfazer-se, talvez tenha perdido o fio da meada (sendo que ela domina isso que está fazendo), e também por que precisa lavá-lo ver se vai sair bem a mancha.”
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